Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço ...
Uma flor ainda desbotada
Ilude a polícia, rompe o asfalto.
Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
Garanto que uma flor nasceu.
Sua cor não se percebe.
Suas pétalas não se abrem. Seu nome não está nos livros..
É feia. Mas é uma flor.
Furou o asfalto. O tédio. O nojo. O ócio.
É feia. Mas é realmente uma flor.
A rosa do povo. C.D.A.
Eis o grande feito de A Rosa do Povo. Publicado em 1945, época marcada pela Segunda Guerra Mundial e Ditadura Vargas, Drummond mostra-se uma antena poderosíssima que capta o sentimento, as dores, a agonia de seu tempo.
Seus versos acabam por dar-lhe uma potência fenomenal na análise social e existencial. Posto à margem do sistema, consegue ter uma visão mais clara e menos comprometida pela alienação dos que se preocupam em cumprir seus compromissos rotineiros.
No poema há um eu-lírico mergulhado num mundo sufocante, em que tudo é igualado a mercadoria, tudo é tratado como matéria de consumo. Em meio a essa angústia, a existência corre o risco de se mostrar inútil, insignificante, justificando a náusea, o mal-estar. Tudo se torna baixo, vil, marcado por "fezes, maus poemas, alucinações". No entanto, em meio a essa clausura sócio-existencial, o poeta vislumbra uma saída. Não se trata de idealismo ou mesmo de alienação. Não está imaginando, fantasiando uma mudança - ela de fato está para ocorrer, É o nascimento da rosa, símbolo do desabrochar de um mundo novo, o que mantém o poeta vivo em meio a tanto desencanto.
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