29 de novembro de 2010

Em defesa do ABrupto

Motivo de conflitos de outroras que agora relembro e revivo..
Em defesa da pronúncia "ab-rupta", que pode até travar a garganta d´alguns, mas é justo essa paradinha que intensifica e embeleza a palavra.


Pedindo ajuda a quem organizou o Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa da ABL, o mesmo responde de forma humilde e fantástica; posto que conhecimento não requer prepotência para garantir-lhe veracidade..
Oh doce ironia.. 
  
HOUAISS
"Abrupto ou ab-rupto: eis uma bela área de lana caprina: quando a heróica façanha de padronizar uma terminologia envereda pela de padronizar uma língua, perdem-se os padronizadores e a padronização... Todos nós que convivemos com os usuários de uma língua mais ou menos culturalizados, sabemos como variam de opiniões metalingüísticas. Por isso, sabemos que os há "os bem menos e os bem mais". Um dos pontos de referência válidos para a matéria é buscar a autonomia vocabular do 'primitivo'. Há rupto em português, há, não há? Daí, há abrupto ou ab-rupto? Daí, manter os opinantes em um dos lados do maniqueísmo é puro maniqueísmo. Grafando ou pronunciando os componentes distintivamente, os usuários apenas marcam um grau de sua consciência lingüística, mais ou menos formal. Não busque, na sua área, um rigor que não há (digo eu, felizmente) na sua língua. Respeite as alternativas, válidas, dos usuários. A língua jamais está pronta e acabada: sempre infieri , revela sempre o jogo de alternativas desse infieri (o que a faz mais bela e fascinante)."

lindo, não??

Aqui a prova:

23 de novembro de 2010

Sopro de Vida

 Ângela é doida. Mas tem uma lógica matemática na sua doidice aparente. E se diverte muito a escandalosa. 
Aguça-se demais e depois não sabe o que fazer de si. Que se dane!
 Entre o "sim" e o "não" só há um caminho. Escolher. 
Ângela escolheu "sim". 
Ela é tão livre que um dia será presa. 
- Presa por quê?
- Por excesso de liberdade.
- Mas essa liberdade é inocente?
- É. Até mesmo ingênua.
- Então por que a prisão?
- Porque a liberdade ofende.


C.Lispector In: Um Sopro de Vida

21 de novembro de 2010

Ela faz cinema

Quando ela chora
Não sei se é dos olhos para fora
Não sei do que ri

Eu não sei se ela agora
Está fora de si
Ou se é o estilo de uma grande dama

Quando me encara e desata os cabelos
Não sei se ela está mesmo aqui
Quando se joga na minha cama

Ela faz cinema Ela faz cinema
Ela é a tal
Sei que ela pode ser mil
Mas não existe outra igual

Quando ela mente
Não sei se ela deveras sente
O que mente para mim
Serei eu meramente
Mais um personagem efêmero
Da sua trama

Quando vestida de preto
Dá-me um beijo seco
Prevejo meu fim
E a cada vez que o perdão
Me clama

Ela faz cinema Ela faz cinema Ela é demais
Talvez nem me queira bem
Porém faz um bem que ninguém
Me faz

Eu não sei
Se ela sabe o que fez
Quando fez o meu peito
Cantar outra vez
Quando ela jura
Não sei por que Deus ela jura
Que tem coração
e quando o meu coração
Se inflama

Ela faz cinema Ela faz cinema
Ela é assim
Nunca será de ninguém
Porém eu não sei viver sem
E fim.

C.Buarque.CD Carioca

Sentimentos mais cheios de flores? Só quando o tempo for de flores
Andar de mãos dadas? O tempo é muito turbulento. Muito impreciso
O amor o romantismo? Tudo muito puro. Não os exporei a tanta lama
Hoje valorizemos a necessidade. E fim.
                                Michelle de Andrade

10 de novembro de 2010

A porta fechada..


Uma porta. Fechada
 Apenas uma porta fechada. 
  Sem chaves. Sem fechaduras. 
    Sem trincos
Apenas um maciço de madeira 
separando dois universos 
    por vezes distintos;
     tão quantas vezes comuns
Não. 
Não era o barulho que corrompia
     seu sono manso 
Nem a ansiedade
     de mais uma noite não vivida
A porta fechada escondia o coração aberto
Ela só queria amanhecer

8 de novembro de 2010

No fim, todo passado transforma-se num simples "bom dia"

A poesia tem um quê de universal, já que sao os sentimentos assim o são - E por que não dar-lhes nova estampa: a estampa da repetição?
A disciplina militar impôs-me um pensar um sentir um andar um ser solitário..
Esse ser que rir das piadas mais tolas entre uma e outra lagrima disfarçada num brilho diferente do olhar, um olhar marejado de saudades  
Quem caminha sobre a lógica e as incertezas da guerra a que chamamos vida; por isso a guerra nunca deixa que aquela moça aquelas saias  aquele sorriso pueril aquela maquiagem vermelha nunca deixe que ela se torne por completo paisana.
O sofrimento há, quando necessario. Ao sofrimento, tempo.
A vida, a busca a luta se fazem diarias.
A luta, solitária, se faz diaria.
   Michelle de Andrade

O sentimento expresso em poesia, escrito por Igor Zagoni e vivido pela universalidade dos sentimentos humanos

 "Mas há momentos sem linguagem
Entre o dormir e o acordar
De sublevação da imagem
Por onde foge
Esta rua este outono
Este são este doente
Este que sonha
    Que sonhar Que viver seja sempre recontar..

Mas então vivemos a emoçao de um possivel amor
Que antes e depois buscamos despedaçados
Mas basta este raro então
E essa feliz possibilidade de contar
Com a infelicidade de ao mesmo tempo
Limitar o contado

Que a vida que são vidas
O que agora contamos
Não seja sempre nossa vida
A disciplina militar impõe
Entre seus exercícios
O pensar solitário
Sobre a lógica e as incertezas da guerra
E nunca deixa que ele se torne
Por completo paisano
Mesmo sob uma árvore entre pássaros
Entre os meninos e os serviçais
A arma sempre ao alcance
O riso preciso que o álcool cevadado, que o vinho não altera

 Entre as pessoas que abrem sua corrente
Ela esqueceu as apostilas
O horário de aula..
E talvez tenha experimentado
A possibilidade
A doçura
Fechando a mão sobre o papel da bala
Sem que eu saiba a razão e os meios
A rosa o firmamento

Procurando você duas quadras ao lado
No seu José fabricante de doce de leite
Você sentado na varanda  
E está como estamos na calma desse quadro imóvel

Querido sinto imensamente meus descuidos
Meu velar doido
Que há a máquina do mundo emperrado em meu ombro
E eu não tive a sabedoria, apenas a calma

Não esqueço algo vela 
Por nossa insensatez e obriga que nos busquemos
Nessas mãos que não seguram
Nesse avoamento
Um oculto desejo de integridade

Sob o neón do abajur
Cintila seu olho vermelho
Viajando imóvel na noite
Tentando entender
Descobrir qual é e de quem é
A culpa

Entre o nariz e a boca
A lágrima fendida
Se ergue sobre territórios
Que ninguém percorrerá
Profundezas abismos
Névoas estradas interrompidas

Talvez seja mais simples
Você tem boas pernas
E gosta de conversar polidamente
Deixe passar o incomodo
Com uma água com açúcar
E não se esqueça de uma vez
De que as mães jamais têm razão

Mas me mantive firme com mão vazia
E outra vez pus o nome na lista
Dos que tentam a sorte
Perder é humano
E o dia um catálogo de impossibilidades
Embora tudo se compre venda e financie

Tantas canções de amor não esgotam o seu tempo
Mas elas nem tentam
Mesmo os corações são tão diversos
Cala-se um pouco fala-se um pouco 
Mente-se um pouco...
Canta-se

Saí
Fechei atrás de mim aquela porta
E de minhas mãos caídas uma flor morta
Ignorante da primavera que sorria

Na rua
Eu também estou tentando
Entender melhor minhas impressões
Desse espaço inquieto
Dessas janelas quase sempre fechadas
Essa metódica relação
Entre quem é cioso
De sua responsabilidade

Sempre há a incerteza
Mas o coração é sobremodo vulnerável à esperança
E quando seu amor se gasta
Tão fácil vem como se vai
E descendo bastante fundo
Encontramos amores não sabidos
Mas vividos

Não posso remediar
O que não houve entre nós
Não creio em ti
Não creio em mim
Não posso mentir
Palavras o vento leva
Trazendo a tempestade
Tolice fugir

Abrir guarda-chuvas
Esquecer a verdade
O passado não houve
O futuro não houve
Nosso agora é invenção
Dançamos a sós
Essa canção

28 de setembro de 2010

Sentimento de mim

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.

Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.

E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.

E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.

Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.

És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.

Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.

As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.

Alguns, achando bárbaro o espetáculo,
prefeririam (os delicados) morrer.

Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.

A vida apenas, sem mistificação.
CDA. in Sentimento do Mundo

Sem mistificacao


Meus olhos hoje estão embotados de trabalho e lágrima

Cimento e tráfego
Barulho.

O coracao, se acelera, o faz sem sentido.
O tempo do amor ficou para depois
O tempo da pureza e inexatidao ficou para depois

A roupagem que a veste nao tem rendas nem cetim
Cobre-lhe a poeira das calçadas; o asfalto o Sol
o barulho

Ela ainda não sabe ser metade
A emoçao ainda rouba-lhe o tempo
Há muito trabalho a se fazer
Ela ainda não sabe ser metade

"Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação."

O conto do primeiro arrependimento

Hoje tomei a liberdade, senão a ousadia de ser sincera. Sincera demais, inclusive.
Sem medo, em total desapego com o preconceito alheio, conto-lhes, em 1a pessoa, meu fracasso.

Hoje nada pôde conter tanta emoção guardada - como há muito não se vira.
Forte e sozinha, cheia de objetivos, tendo por subir ladeiras sempre pedregulhadas; destemida da morte, de peçonhas rastejantes, cobras, baratas, labios ferinos, e o resto da imundície do mundo, admira-se que tal rija pessoa poderia ter algum sentimento altruísta..

Amar e mudar o mundo..                         (tema doutro blog)

Entrada fracassada.
Proposta fracassada.
Como querer mudar o mundo se sequer consigo modificar as atitudes d´alguém? Alertá-lo sobre os perigos do caminho escolhido, das atitudes abruptas, da impaciência (in)constante; do alto preço resultante por agir sem humildade, do orgulho enormemente ferido e dos escudos invisiveis em que esconde um garoto, sofrido, cheio de incertezas sobre a busca de um futuro feliz, mas, por estar igualmente só - e querer estar só - não confia suas fraquezas a pessoa alguma.

Ah... Pobre "eu-lírico"...
As pessoas não mudam simplesmente pelo desejo de um coração alheio, nem diante do melhor argumento de um conselho ou atitude exposta. O orgulho as cega, triste eu-lírico..
Não só cega. Ensurdece. Emudece.

Mas a tristeza maior foi vergonhosamente mais desconcertante. Foi ceder reciprocamente e em semelhante medida ao respectivo egoísmo. Pensar apenas em primeira pessoa, no presente do indicativo, a fim de ter a ilusória certeza de não ferir o próprio orgulho.

- Vai me decepcionar? 
Essa fora a primeira pergunta, tão logo o palco das emoções mudara de cena.
Os passarinhos, antes verdes, logo viram doença, câncer, frustrações familiares e vultosas perdas materiais.

Cinco minutos de "reflexão" foram suficientes.
Para ela, era fato consumado: não haveria tempo a perder por insistir nalgum conselho que pouco seria compreendido pelo receptor. Ela simplesmente resolveu se dar o luxo de pensar só em si - como sorrateiramente faz o sexo oposto. E sem remorso ou desconforto algum:
    - Vai me decepcionar? 
    - Muita coisa acontecendo. Muita coisa ruim me acontecendo
    - Vai me decepcionar? Ela insiste
    - Acho que sim.
    Ela pensa - duvido que um homem nao tenha o orgulho ferido ao ser confrontado (e logo por uma mulher)
      
    Bem, se decepcionou, ninguem saberá. Mas um ser orgulhoso possui dessas "vantagens. Para conseguir algo, basta-lhe por à prova. Ingenuamente achará que tomará a frente, que terá a palavra final (os homens são tão previsíveis...)
     Resultado final - ambos foram fdp´s e sexualmente felizes, digo, satisfeitos, um com o outro..
     Previsão inicial - fazer a diferença (ela) na vida de outrem.
     
     Emoção singular à parte - é facil lançar da paixão às palavras quase sinceras e ao olhar doce, o cruzar das mãos, o tato dócil, a voz em murmúrio -, ela outrora conseguia enxergar bondade nos seus olhos pueris. E isso a motivava a querer-lhe bem..
    Mas a vez, dessa vez, era dela - aproveitar o momento, o batom vermelho, o fôlego, a auto-estima a mil.
    A vez era realmente dela

    Esquecera-se, porém, da infeliz autocrítica inabalável que não tardara a chegar. Como admitir-se filha-da-puta? Como felicitar-se maltratando, pisoteando em salto agulha cada bolha ativa de calo, a quem se tem (ou tinha) carinho? 
    Deu-lhe vontade de queimar todos os evangelhos, as mensagens altruístas de Dalai Lama, as confissoes de Neruda, a serenidade "exupèryana", posto que grande falso moralismo recaía sobre seus pensamentos nada impolutos.
    Porém uma lágrima sequer brotou-lhe nos olhos. Já sem tanta mágoa. Já sem tamanho arrependimento ela percebe, decerto assustada, que vai deixando de ser aquela menina que sofre para ser aquela mulher que luta. Aquela mulher que só, luta, sem que as inclinações da estrada desviem sua rota.


18 de setembro de 2010

E se? Sensaçoes


E se realmente gostarem? 
E se o toque do outro de repente for bom? 

Bom
A palavra é essa. 

Se o outro for bom para você. Se te der vontade de viver. Se o cheiro do suor do outro também for bom. Se todos os cheiros do corpo do outro forem bons. 
O pé, no fim do dia. 
A boca, de manhã cedo... 

Bons, normais, comuns. Coisa de gente.
Cheiros íntimos, secretos.

Ninguém mais saberia deles se não enfiasse o nariz lá dentro, a língua lá dentro, bem dentro, no fundo das carnes, no meio dos cheiros. 

E se tudo isso que você acha nojento for exatamente o que chamam de amor? Quando você chega no mais íntimo, No tão íntimo, mas tão íntimo que de repente a palavra nojo não tem mais sentido. 
Você também tem cheiros. As pessoas têm cheiros, é natural. 

Os animais cheiram uns aos outros. O que é que você queria? Rendas brancas imaculadas? 
Será que amor não começa quando nojo, higiene ou qualquer outra dessas palavrinhas, desculpe, você vai rir, qualquer uma dessas palavrinhas burguesas e cristãs não tiver mais nenhum sentido?" 
                                                                 [Caio Fernando Abreu ]

30 de agosto de 2010

Canção do dia de sempre

Tão bom viver dia a dia...
           A vida assim, jamais cansa...
Viver tão só de momentos
          Como estas nuvens no céu...
E só ganhar, toda a vida,
          Inexperiência... esperança...
E a rosa louca dos ventos
         Presa à copa do chapéu.

Nunca dês um nome a um rio:
       Sempre é outro rio a passar.
Nada jamais continua,
      Tudo vai recomeçar!
E sem nenhuma lembrança
      Das outras vezes perdidas,
Atiro a rosa do sonho
     Nas tuas mãos distraídas...                                  Mario Quintana

Não, não. Este poema não se encontra no blog errado. Quintana se faz belo, mas também irônico. 
Tal qual Vinicius, cujas obras são declaradas por amantes apaixonados que de tão apaixonados se esquecem sequer de analisar o que recita
 "Amo-te como um bicho,simplesmente/ De um amor sem mistério e sem virtudes " pense numa declaracão...
  "Eu possa me dizer do amor (que tive)/ Mas que seja infinito enquanto dure." Esse é batata... antecipa o fim 2 vezes numa mesma estrofe.

Quintana também o é, digamos, delicado aos recitais
"Se tu me amas, ama-me baixinho/ Deixa em paz os passarinhos" 
Lindo, não?
Leia o resto: 
 "Deixa em paz a mim!"  "que a vida é breve, e o amor mais breve ainda..."
Lindo, ainda?

Se for pra ser real, e ainda significativo, não gaste muito da memória - corre-se o risco de tropeçar e encontrar um poste à frente. Sê-de, pois, sincero, sem deixar o romantismo de lado, como "A Oferenda":
                          "Eu queria trazer-te uns versos muito lindos...
                                 Trago-te estas mãos vazias
                                 Que vão tomando a forma do teu seio."        Simples e direto. E lindo..



Voltando ao poema inspirador, faz-se estranho esta vida de "atirar às mãos destraídas" os sonhos, os dias..a si próprio, pra "ver no que vai dar", como age o homem, a humanidade (porém dando considerável maior contribuição o sexo masculino).
É estranha essa vida de laboratório..
"A vida assim, jamais cansa..." Cansa, querido Quintana. Cansa..
...

21 de agosto de 2010

Vamos falar de sexo ...

Foi conversando do provincianismo estúpido das cidadelas de interior que me apresentaram essa banda nerd
Nada mais desbocado e honesto quanto a interpretação (a fundo) de um relacionamento..


Eu valorizo o caráter
Gosto de conversar
Mas pra ser justo tenho que te confessar: Primeiro eu penso em sexo


Não acho que o amor é pieguisse
Eu quero fazer planos pra velhice
  Mas .... pensando em sexo!

Eu sei que o ser humano é mais complexo
Mas quem estaria aqui se não fosse o sexo!
hehehehhhehe
Muito boa!
Banda Os Seminovos
http://www.youtube.com/watch?v=vrd3feOJ3IM

25 de julho de 2010

Vai...

Poema denúncia. Serás tu também capaz de confessar teu sofrimento perante este mundo?
...


Vai, caminha, fala tudo
Confessa que esta manhã não adormeceu
Diz para mim que estás curado
Que já consegues enfrentar
Essa gente mal formada
Diz para mim que teu caráter
Continua altivo, atento e forte
Que não serás mais um que se vendeu
Não queiras o preço da morte
Nem dará esmolas para aplacar tua consciência 


Vai diz pra mim que teu nome ainda soa forte
Que ainda acreditas nas velhas utopias
O escorregar inconsciente foi a fraqueza
De apenas desejar continuar a ser feliz

Vai diz para mim
Que suportarás essa dor
De perder, de deixar, de abandonar
Esse vazio

Por que essa dúvida?
Por que esse desconsolo?
Se tu sabias que não irias transformar nada
No máximo será possível assistir o germe rebentar
Não há fracasso nisso

Engole tua vaidade, teu egoísmo
Libera endorfina e segue tua vida
Não se deixe adoecer nesse mórbido horizonte
Supera essa noite mais
Esquece esse medo de perder
Esquece o dia do entardecer.


Do meu amigo Lauro Xavier Neto. Poeta paraibano cujas interrogações e exclamações nada sutis da vida o motiva a revelar, a cada dia, por entre versos, a denúncia de seu ser..

21 de julho de 2010

Eu..me basto!

Ainda hoje estava a discutir a “autossuficiência”, a filosofia de vida, por assim dizer, de quem se considera inteiro, ainda que só.
Por que devemos ter alguém, sempre, ao lado para “preencher” o vazio de uma companhia?
Ao descuidado leitor que pára nesta frase última, um questionamento irônico logo se faz:- quão decepcionado com a vida, quão mal-amado é esse dito cujo que “ousa” tecer tal comentário..
Mas, verdade seja expressa: por mais que o carinho, o prazer do aconchego, a troca de experiências e o prazer das (re)descobertas sejam de inigualável prazer, a falta de tais descritores não impedem que a busca da beleza para agradar a si, do sucesso profissional por seus próprios méritos e esforços, e de enfim, conhecer seus limites, seus objetivos, suas angústias, seus "quereres", sem "entraves", é de semelhante prazer, valor e beleza.
Conhecer a si é de uma aventura indescritível. E só estando só para sentir tal gostinho.
Um brinde à solitude e ao autoconhecimento!

Deixo-vos à degustaçao do belíssimo Quintana:

     Aprendi..
     Quando depositamos muita confiança ou expectativas em uma pessoa, o risco de se decepcionar é grande.
     As pessoas não estão neste mundo para satisfazer as nossas expectativas, assim como não estamos aqui, para satisfazer as delas.
    Temos que nos bastar... nos bastar sempre, e quando procuramos estar com alguém, temos que nos conscientizar de que estamos juntos porque gostamos, porque queremos e nos sentimos bem, nunca por precisar de alguém.
    As pessoas não se precisam, elas se completam...
Não por serem metades, mas por serem inteiras, dispostas a dividir objetivos comuns, alegrias e vida."

(Mario Quintana)

20 de julho de 2010

Simplesmente..Chega de análises!!!

Chega de Análises! De mim. De ti. De todos..
Sintamos o prazer da emoção de cada minuto, apenas... 
Vivamos assim um amanhecer, de cada vez.. A cada dia
Conhecendo... Conversando.. Permitindo (ou não) que se entre em sintonia..
Embora com as determinações e desconfianças embutidas pela maturidade
Vivamos sim, com maiores sentidos e menores análises...
Quintana o explica melhor..


"Por favor, não me analise
Não fique procurando cada ponto fraco meu.
Se ninguém resiste a uma análise profunda, Quanto mais eu... 


Ciumento, exigente, inseguro, carente
Todo cheio de marcas que a vida deixou
Vejo em cada grito de exigência

Um pedido de carência, um pedido de amor. 

Amor é síntese
É uma integração de dados
Não há que tirar nem pôr


Não me corte em fatias
Ninguém consegue abraçar um pedaço
Me envolva todo em seus braços
E eu serei o perfeito amor." 


Mário Quintana

4 de julho de 2010

Querido Passado...

    Agarrei-me a ti o mais que pude
numa tentativa desesperada de colocar reticências na minha vida, em vez de um grande ponto final
   Reli todas as frases dessa história fascinante que insistias em manter inigualável; Decorei os traços das letras que continham o peso dos momentos menos bons, a lucidez de cada sorriso, até mesmo os parágrafos que descreviam longos passeios de mãos dadas. Relembrei todas as velhas memórias que me sussurravas todas as noites ao ouvido;
      Chorei quando me gritaste, de forma estridente, que nunca conseguiria libertar-me de ti; Desesperei quando insinuaste que não seria capaz de voltar a amar, senti-me desamparada sempre que me obrigaste a elevar as minhas defesas ao máximo, evitando assim, em todos os momentos, uma possível aproximação de quem quer que fosse; Cedi muitas das vezes aos teus caprichos e mantive-me isolada, silenciada, sofrida, chorosa, perdida…
          Por ti, quase desisti dos meus sonhos; os meus passos tornaram-se lentos, e os pés, pesados, já pouco levantavam do chão; quase me fizeste acreditar que não conseguia dar os meus próprios passos sem estar presa ao falso equilíbrio que me transmitias através das linhas grossas da apatia.
        Por ti, dispensei a companhia das pessoas que durante uma vida inteira me mostraram como sorrir de forma completa e sincera...
        Enganaste-me!! Fizeste-me acreditar que caminhar de mãos dadas contigo seria sinónimo de cicatrização de todas as feridas que a ausência dele deixou na minha alma… fizeste-me acreditar que adormecer com as tuas histórias de embalar poderiam livrar-me das insónias, quando no fundo, afastavam apenas e cada vez mais, de mim a serenidade de que eu tanto precisava para diminuir um pouco a intensidade da minha dor…
      Agarraste-me pelo braço, apertaste-o e fizeste-me caminhar descalça, por cima de brasas quase intermináveis… as dores eram insuportáveis …eu chorei, implorei, mas ainda assim não me largaste, e apesar das inúmeras tentativas, não permitiste que eu me libertasse das tuas garras transparentes com a pouca força que me restava… já não tenho noção do tempo, ou de quantas vezes o fizeste, mas, recordo-me que nesses momentos, agarrada à pouca lucidez que ainda havia em mim, pedia incessantemente à esperança que voltasse a habitar o meu coração, que me salvasse daquela tortura insuportável… e ela, nos escassos momentos em que me deixavas esquecida na imensa escuridão daquele calabouço, apareceu, sob a forma de um abraço apertadinho, de mãos suaves que acariciavam o meu rosto cansado… e ficava ali comigo, com visitas cada vez mais demoradas. Até que houve um dia em que ela não precisou de ir embora, porque tu não regressaste. Porque eu não permiti que tu regressasses...
      Provocaste, em mim, uma dor superior á dor da minha perda... sim eu sei, culpa minha. Confiei cegamente em tiseduziste-me com esse teu charme fácil, de quem tem a magia de permitir que outros continuem o resto das suas vidas a reviver determinados momentos uma e outra e outra e outra vez. Pois bem, revivi o quanto baste, durante o tempo mais do que suficiente para guardar apenas as coisas que me fizeram crescer em muitos aspectos. ..
       Ensinaste-me a maior lição da minha vida, mas não vou agradecer-te, porque essa foi adquirida apenas às  minhas custas e só eu sei o quanto doeu sabe-las e vivê-las, da forma como agora sei…
       Quero que saibas que assim que sair por aquela porta, vou respirar fundo, vou fechar os olhos e voltar a encher os pulmões de ar, talvez, quem sabe, para levar a todas as esquinas do meu interior um pouco da paz de espírito que sei que vou sentir…

       Saio hoje daqui com uma única certeza: Nunca mais vivo em tua função, nunca mais vivo em função do passado. Nem sequer uma espreitadela inocente, nada! Todas as lições que me deste estão agora guardadas num cantinho da minha alma e é lá que regresso sempre que precisar, porque a ti, ou a esta tua casa traiçoeira NUNCA MAIS! Mesmo!


P.s: Deixo todas as minhas velhas memórias aqui, não quero mais o peso dessas bagagens de areia a atrasar os meus passos. Saio apenas com a leveza, o sorriso e a serenidade de quem sente novamente o seu coração bater em corpo alheio… são tantos os sonhos que me esperam… tenho pressa de viver… vou correr sem olhar para trás…!

Até nunca mais. 
Christiana Franco

3 de julho de 2010

That simply wasn't good enough To make us proud


I'm in no hurry; I could wait forever
I'm in no rush cause I like being solo
There are no worries and certainly no pressure
In the meantime I'll live like there's no tomorrow
                                                                         Alanis

(Eu não estou com pressa, eu poderia esperar para sempre/
Eu não estou com pressa porque gosto de estar sozinha
Não há preocupações e certamente não há pressão/
Enquanto isso, viverei como se não houvesse amanhã)

3 de junho de 2010

O amor como meio, não como fim

Esse texto não poderia ser mais claro. O amor como posse? como renúncia?
Encontro aqui a quebra do estigma de tantos casais que solitarios vivem em favor de suas renuncias...
Dedico o texto à vespera do 12 de junho. 
Momentos de reflexao para os criticos, que também amam...E para os poetas, que também vivem...

O amor como meio, não como fim, por Flavio Gicovate

- É hora de substituir o ideal romântico do amor que basta em si mesmo (por isso não dura) por uma relação que traga crescimento individual.

                  Há algo de errado na forma como temos vivido nossas relações amorosas. Isso é fácil de ser constatado, pois temos sofrido muito por amor. Se o que anda bem tem que nos fazer felizes, o sofrimento só pode significar que estamos numa rota equivocada. Desde crianças, aprendemos que o amor não deve ser objeto de reflexão e de entendimento racional; que deve ser apenas vivenciado, como uma mágica fascinante que nos faz sentir completos e aconchegados quando estamos ao lado daquela pessoa que se tornou única e especial. Aprendemos que a mágica do amor não pode ser perturbada pela razão, que devemos evitar esse tipo de "contaminação" para podermos usufruir integralmente as delícias dessa emoção - só que não tem dado certo. Vamos tentar, então, o caminho inverso: vamos pensar sobre o tema com sinceridade e coragem.
                   Conclusões novas, quem sabe, nos tragam melhores resultados.
                   Vamos nos deter em apenas uma das idéias que governam nossa visão do amor. Imaginamos sempre que um bom vínculo afetivo significa o fim de todos os nossos problemas. Nosso ideal romântico é assim: duas pessoas se encontram, se encantam uma com a outra, compõem um forte elo, de grande dependência, sentem-se preenchidas e completas e sonham em largar tudo o que fazem para se refugiar em algum oásis e viver inteiramente uma para a outra usufruindo o aconchego de ter achado sua "metade da laranja". Nada parece lhes faltar. Tudo o que antes valorizavam - dinheiro, aparência física, trabalho, posição social etc. - parece não ter mais a menor importância. Tudo o que não diz respeito ao amor se transforma em banalidade, algo supérfluo que agora pode ser descartado sem o menor problema.
                   Sabemos que quem quis levar essas fantasias para a vida prática se deu mal. Com o passar do tempo, percebe-se que uma vida reclusa, sem novos estímulos, somente voltada para a relação amorosa, muito depressa se torna tediosa e desinteressante. Podemos sonhar com o paraíso perdido ou com a volta ao útero, mas não podemos fugir ao fato de que estamos habituados a viver com certos riscos, certos desafios. Sabemos que eles nos deixam em alerta e intrigados; que nos fazem muito bem.
                  De certa forma, a realização do ideal romântico corresponde à negação da vida. Visto por esse ângulo, o amor é a antivida, pois em nome dele abandonamos tudo aquilo que até então era a nossa vida. No primeiro momento até podemos achar que estamos fazendo uma boa troca, mas rapidamente nos aborrecemos com o vazio deixado por essa renúncia à vida. A partir daí, começa a irritação com o ser amado, agora entendido como o causador do tédio, como uma pessoa pouco criativa e desinteressante. O resultado todos conhecemos: o casal rompe e cada um volta à sua vida anterior, levando consigo a impressão de ter falido em seus ideais de vida.
                  Os doentes acham que a saúde é tudo. Os pobres imaginam que o dinheiro lhes traria toda a felicidade sonhada. 
                  Os carentes - isto é, todos nós - acham que o amor é a mágica que dá significado à vida. O que nos falta aparece sempre idealizado, como o elixir da longa vida e da eterna felicidade.
                  Diariamente, porém, a realidade nos mostra que as coisas não são assim, e acho importante aprendermos com ela. Nossas concepções têm de se basear em fatos, nossos projetos têm que estar de acordo com aquilo que costuma dar certo no mundo real. Fantasias e sonhos, ao contrário, têm origem em processos psíquicos ligados à lembranças e frustrações do passado. É importante percebermos que o que poderia ser uma ótima solução aos seis meses de idade, como voltar ao útero materno, será ineficaz e intolerável aos 30 anos. A bicicleta que eu não tive aos 7 anos, por exemplo, não irá resolver nenhum dos meus problemas atuais. É preciso parar de sonhar com soluções que já não nos satisfazem a adaptar nossos sonhos à realidade da condição de vida adulta.
                Se é verdade, então, que o amor nos enche de alegria, vitalidade e coragem - e isso ninguém contesta -, por que não direcionar essa nova energia para ativar ainda mais os projetos nos quais estamos empenhados? Quando amamos e nos sentimos amados por alguém que admiramos e valorizamos, nossa auto-estima cresce, nos sentimos dignos e fortes. Tornamo-nos ousados e capazes de tentar coisas novas, tanto em relação ao mundo exterior como na compreensão da nossa subjetividade. Em vez de ser um fim em si mesmo, o amor deveria funcionar como um meio para o aprimoramento individual, nos curando das frustrações do passado e nos impulsionando para o futuro. Casais que conseguem vivê-lo dessa maneira crescem e evoluem, e sob essa condição seu amor se renova e se revitaliza.

Fonte:

1 de junho de 2010

mudanças de vida e de rumo

Eu,completa
De uns tempos pra cá, muita coisa mudou.
Deletei um monte de gente da minha vida. Tudo sem um pingo de remorso. 

Quem me conhece, sabe que eu nunca fui assim. 
Sempre dei segundas, terceiras e décimas chances pra todo mundo. 
Sempre compreendi os erros alheios. Chorei e sofri junto. 
E passei a mão na cabeça de quem fingia querer o meu bem. Estou mentindo?

A verdade é que, se me analisarem hoje, eu virei outra pessoa. 
Sou quase a mesma de sempre, mas sinto que não sou mais boazinha. 

Minha tolerância acabou, minha intuição fareja à distância uma cabecinha ruim. 

Não tenho raiva de ninguém, mas minha prioridade agora é uma só: eu.

Chega uma hora na vida que a gente tem que parar de ser boa com os outros e ser boa – primeiramente - com a gente. 
Quando o “ajudar ao outro” começa a te prejudicar, chegou a hora de parar.

Desculpem-me, então, os que larguei à deriva.
Eu não vou tolerar ninguém que me faça ter sentimentos que não sejam incríveis
É uma questão de respeito com a minha própria vida. E comigo mesma.

Não quero. Não posso. Não vou. 
Então pra você que acha que eu sou a mesma boba de sempre (que escuta, releva e põe panos quentes), um aviso: tome cuidado comigo.

Porque agora que eu sei o que me é caro, 
Não vou mais deixar barato.
nao, nao é minha tatoo. Maior valor à frase.. 

Loucos e Santos

Escolho meus amigos não pela pele ou outro arquétipo qualquer, mas pela pupila. 
Tem que ter brilho questionador e tonalidade inquietante. 

A mim não interessam os bons de espírito nem os maus de hábitos. 

Fico com aqueles que fazem de mim louco e santo. 
Deles não quero resposta, quero meu avesso. 
Que me tragam dúvidas e angústias e agüentem o que há de pior em mim. 

Para isso, só sendo louco. 
Quero os santos, para que não duvidem das diferenças e peçam perdão pelas injustiças. 

Escolho meus amigos pela alma lavada e pela cara exposta
Não quero só o ombro e o colo, quero também sua maior alegria.
Amigo que não ri junto, não sabe sofrer junto. 

Meus amigos são todos assim: metade bobeira, metade seriedade. 
Não quero risos previsíveis, nem choros piedosos. 
Quero amigos sérios, daqueles que fazem da realidade sua fonte de aprendizagem, mas lutam para que a fantasia não desapareça. 

Não quero amigos adultos nem chatos. 
Quero-os metade infância e outra metade velhice! 
Crianças, para que não esqueçam o valor do vento no rosto; e velhos, para que nunca tenham pressa. 

Tenho amigos para saber quem eu sou. 
Pois os vendo loucos e santos, bobos e sérios, crianças e velhos, nunca me esquecerei de que "normalidade" é uma ilusão imbecil e estéril.