28 de setembro de 2010

O conto do primeiro arrependimento

Hoje tomei a liberdade, senão a ousadia de ser sincera. Sincera demais, inclusive.
Sem medo, em total desapego com o preconceito alheio, conto-lhes, em 1a pessoa, meu fracasso.

Hoje nada pôde conter tanta emoção guardada - como há muito não se vira.
Forte e sozinha, cheia de objetivos, tendo por subir ladeiras sempre pedregulhadas; destemida da morte, de peçonhas rastejantes, cobras, baratas, labios ferinos, e o resto da imundície do mundo, admira-se que tal rija pessoa poderia ter algum sentimento altruísta..

Amar e mudar o mundo..                         (tema doutro blog)

Entrada fracassada.
Proposta fracassada.
Como querer mudar o mundo se sequer consigo modificar as atitudes d´alguém? Alertá-lo sobre os perigos do caminho escolhido, das atitudes abruptas, da impaciência (in)constante; do alto preço resultante por agir sem humildade, do orgulho enormemente ferido e dos escudos invisiveis em que esconde um garoto, sofrido, cheio de incertezas sobre a busca de um futuro feliz, mas, por estar igualmente só - e querer estar só - não confia suas fraquezas a pessoa alguma.

Ah... Pobre "eu-lírico"...
As pessoas não mudam simplesmente pelo desejo de um coração alheio, nem diante do melhor argumento de um conselho ou atitude exposta. O orgulho as cega, triste eu-lírico..
Não só cega. Ensurdece. Emudece.

Mas a tristeza maior foi vergonhosamente mais desconcertante. Foi ceder reciprocamente e em semelhante medida ao respectivo egoísmo. Pensar apenas em primeira pessoa, no presente do indicativo, a fim de ter a ilusória certeza de não ferir o próprio orgulho.

- Vai me decepcionar? 
Essa fora a primeira pergunta, tão logo o palco das emoções mudara de cena.
Os passarinhos, antes verdes, logo viram doença, câncer, frustrações familiares e vultosas perdas materiais.

Cinco minutos de "reflexão" foram suficientes.
Para ela, era fato consumado: não haveria tempo a perder por insistir nalgum conselho que pouco seria compreendido pelo receptor. Ela simplesmente resolveu se dar o luxo de pensar só em si - como sorrateiramente faz o sexo oposto. E sem remorso ou desconforto algum:
    - Vai me decepcionar? 
    - Muita coisa acontecendo. Muita coisa ruim me acontecendo
    - Vai me decepcionar? Ela insiste
    - Acho que sim.
    Ela pensa - duvido que um homem nao tenha o orgulho ferido ao ser confrontado (e logo por uma mulher)
      
    Bem, se decepcionou, ninguem saberá. Mas um ser orgulhoso possui dessas "vantagens. Para conseguir algo, basta-lhe por à prova. Ingenuamente achará que tomará a frente, que terá a palavra final (os homens são tão previsíveis...)
     Resultado final - ambos foram fdp´s e sexualmente felizes, digo, satisfeitos, um com o outro..
     Previsão inicial - fazer a diferença (ela) na vida de outrem.
     
     Emoção singular à parte - é facil lançar da paixão às palavras quase sinceras e ao olhar doce, o cruzar das mãos, o tato dócil, a voz em murmúrio -, ela outrora conseguia enxergar bondade nos seus olhos pueris. E isso a motivava a querer-lhe bem..
    Mas a vez, dessa vez, era dela - aproveitar o momento, o batom vermelho, o fôlego, a auto-estima a mil.
    A vez era realmente dela

    Esquecera-se, porém, da infeliz autocrítica inabalável que não tardara a chegar. Como admitir-se filha-da-puta? Como felicitar-se maltratando, pisoteando em salto agulha cada bolha ativa de calo, a quem se tem (ou tinha) carinho? 
    Deu-lhe vontade de queimar todos os evangelhos, as mensagens altruístas de Dalai Lama, as confissoes de Neruda, a serenidade "exupèryana", posto que grande falso moralismo recaía sobre seus pensamentos nada impolutos.
    Porém uma lágrima sequer brotou-lhe nos olhos. Já sem tanta mágoa. Já sem tamanho arrependimento ela percebe, decerto assustada, que vai deixando de ser aquela menina que sofre para ser aquela mulher que luta. Aquela mulher que só, luta, sem que as inclinações da estrada desviem sua rota.


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